CHOQUE ENTRE PODERES
Prefeitura e Câmara de Palmeira dos Índios enfrentam tensão apesar de discursos conciliadores
Desde o início da gestão de Tia Júlia, episódios de desencontro com vereadores se tornaram públicos


Desde o início da atual legislatura em Palmeira dos Índios, no Agreste alagoano, a relação entre os Poderes Executivo e Legislativo tem sido alvo de atenção e comentários da população local. A prefeita Luísa Júlia, conhecida como Tia Júlia (MDB), tomou posse em janeiro com a promessa de continuidade administrativa e diálogo aberto. No entanto, o que se viu nos primeiros meses de governo foi uma sequência de episódios de tensão entre a Prefeitura e a Câmara Municipal — ainda que, nos discursos oficiais, prevaleça a defesa da harmonia entre os poderes.
Em meio a essa balança de apoios, críticas e reconciliações, a governabilidade da prefeita Tia Júlia parece, por ora, assegurada. Mas, o desafio da gestão será manter a aliança com o Legislativo viva e produtiva, principalmente diante da proximidade do novo ciclo eleitoral e da atuação persistente de vozes opositoras. Para os dois lados, o saldo dependerá da capacidade de manter o foco no interesse da população — e não apenas no embate político.
Apesar da tentativa de harmonização dos discursos, há consenso entre as partes quanto à necessidade de melhorar os canais formais de comunicação entre os dois poderes. Enquanto a Câmara cobra mais agilidade nas respostas do Executivo, a Prefeitura reconhece que o diálogo pode ser aprimorado, mas sustenta que a maioria das propostas tem avançado com apoio parlamentar.
De um lado, a gestão da prefeita afirma contar com o apoio da maioria dos vereadores e aponta um cenário de governabilidade e diálogo. Do outro, o Legislativo reconhece o esforço conjunto, mas cobra maior transparência, resposta a demandas e comunicação institucional mais efetiva.
O presidente da Câmara, vereador Madson Monteiro (PV), define a relação como, em geral, positiva, mas admite pontos de atrito. “Desde o início da gestão, buscamos manter um diálogo respeitoso e constante, sempre com o objetivo de atender melhor a população. É natural que haja um período de adaptação, mas conseguimos avançar em projetos importantes. No entanto, em diversas situações, os vereadores têm buscado respostas e posicionamentos do Executivo que demoram a chegar ou simplesmente não vêm”, criticou.
Madson ainda defendeu uma atuação independente da Câmara, que segundo ele tem fiscalizado com responsabilidade, mas sem abrir mão da parceria institucional. “Não vejo um distanciamento profundo, mas momentos pontuais de desencontro, o que é natural em qualquer relação institucional. Às vezes há divergência de prioridades ou na forma de conduzir determinadas ações, mas isso faz parte da democracia”, completou.
O vereador também defendeu o fortalecimento dos canais de diálogo entre os poderes, com reuniões periódicas e uma escuta mais ativa por parte da prefeitura. Para ele, é preciso garantir que nem Executivo nem Legislativo precisem recorrer ao confronto para se fazer ouvir.
A prefeita Tia Júlia tem adotado um tom conciliador. Para ela, a relação com o Legislativo é, sim, positiva e baseada no respeito. “A maioria dos vereadores compreende o momento que Palmeira vive e sabe da responsabilidade que temos de continuar fazendo a cidade avançar. Existe um clima de diálogo e de parceria institucional, como deve ser. Claro que nem todos caminham com a gente, e isso faz parte da política, mas quem quer o bem de Palmeira sempre vai encontrar as portas do nosso gabinete abertas”, afirmou.
A gestão municipal, por meio de nota, reforçou que tem trabalhado em conjunto com a maioria dos 15 vereadores — 12 dos quais seriam aliados da prefeita. A administração reconhece a existência de divergências pontuais, mas minimiza os atritos e destaca a importância de uma atuação conjunta pelo desenvolvimento da cidade. “Nosso foco é trabalhar por Palmeira, e nisso a Câmara tem sido, majoritariamente, uma aliada importante.”
Júlio Cezar reforça apoio político
Figura central na política local, o ex-prefeito Júlio Cezar, que hoje ocupa o cargo de secretário estadual de Relações Federativas e Internacionais, foi peça-chave na eleição de Tia Júlia. Ele próprio reconheceu que o início da atual gestão foi conturbado, mas vê a situação como pacificada. “No momento da eleição da Mesa Diretora, havia uma certa turbulência, o que é natural na política. Mas, a prefeita sentou com a bancada e mostrou a importância do entendimento para que a governabilidade fosse garantida”, disse.
Júlio Cezar também apontou resistência de setores tradicionais da política local, insatisfeitos com a transição de poder e com a continuidade de sua gestão por meio de Tia Júlia. “Fui o primeiro prefeito da história de Palmeira dos Índios que fez o sucessor, e isso incomodou alguns grupos que sempre governaram o município. Mas a prefeita tem maioria e segue firme. A crise foi superada com diálogo”, reforçou.
Apesar de estar hoje em outra missão no governo estadual, Júlio afirmou que segue acompanhando os rumos da gestão e oferecendo apoio político. “Nunca vou abandonar a base que ajudamos a construir em Palmeira. Estou sempre à disposição para contribuir com a minha experiência para o crescimento da cidade.”