Saúde do Homem previne o câncer de próstata no homem do campo
Em Alagoas, trabalho de conscientização vem reduzindo o preconceito com o exame do toque; programa de promoção da saúde do Senar-AL e SBU salva vidas com 65 edições e quase 11 mil exames
Por Editoria do Gazeta Rural | Edição do dia 23/11/2019 - Matéria atualizada em 23/11/2019 às 07h28
O câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) o Brasil registrou 61.200 novos casos e 13 mil óbitos somente no ano de 2018. As estatísticas também comprovam que 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados em estágios avançados da doença e 25% acabam em óbito. Quando os sintomas começam a aparecer, 95% dos casos já estão em fase aguda.
Diante deste cenário, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por meio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), e a Sociedade Brasileira de Urologia criaram, em 2014, o Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem do Campo (PNAISHC). A iniciativa que nasceu em Alagoas, com o Programa Próstata é Saúde em 2009, graças a determinação e o empenho do presidente da Federação da Agricultura e Pecuária no Estado de Alagoas (Faeal), Álvaro Almeida, preocupado com a saúde e o bem estar do homem do meio rural, também foi estendida aos Estados da Bahia; Ceará; Goiás; Maranhão; Mato Grosso; Pará; Paraíba; Rondônia; Roraima; Tocantins; Santa Catarina e Sergipe.
As ações acontecem em unidades de saúde dos municípios e os casos de alteração nos exames são encaminhados para diagnóstico e tratamento que é feito pelo SUS com a responsabilidade da Secretaria de Saúde dos municípios e do Estado, com a chancela da Santa Casa. “Este programa é pioneiro no Brasil e no mundo. O Ministério da Saúde, por exemplo, não tem referência deste programa. Mas nós temos, estatisticamente, o valor que ele está tendo para o país de forma geral. Alagoas, o programa piloto foi realizado no município de Chã Preta”, declarou o médico urologista Mário Ronalsa, idealizador do PNAISHC.
Em Alagoas, nos últimos dez anos, desde quando a ação de promoção a saúde teve início, 41 municípios foram atendidos, totalizando 65 edições do programa. Neste universo, foram realizados 8.277 exames de PSA e 2.584 exames de toque retal, além de 6.886 homens terem participado das palestras de conscientização de combate e prevenção ao câncer de próstata.
Em termos nacionais, em cinco anos de existência do PNAISHC, 35.034 homens já participaram das palestras de conscientização; 33.319 fizeram o exame de PSA e 12.922 foram submetidos ao toque retal, serviço incorporado ao PNAISHC em 2016.
De acordo com Mário Ronalsa, o estigma de que o homem recusa a realização do exame de toque retal, não condiz com a realidade. “Essa fase já foi ultrapassada. Estatisticamente, temos como comprovar esta realidade. Por exemplo, 12% dos indivíduos, que não têm idade necessária para se submeter a este tipo de exame, fizeram o toque retal. Vale lembrar que a média, por município, durante uma edição do programa, é de 132 exames de toque retal e de PSA. Mas há municípios que chega a 180 pacientes em um dia de ação. A procura é muito grande. Para nós, que estamos envolvidos com este programa, não apenas novembro, mas todos os meses são de alerta para a prevenção. É um programa de educação e de tratamento que é continuado que favorece os homens nestes municípios”, afirmou o urologista coordenador do PNAISHC.
A importância do exame vem sendo trabalhado pelo programa com o propósito de quebrar o preconceito do homem rural. A formatação do PNAISHC ajuda bastante, pois as atividades começam com uma palestra sobre doenças da próstata e muitos homens se conscientizam sobre a importância do exame.
“Os números são muito fortes no Brasil, onde ocorre um novo caso de câncer de próstata a cada sete minutos e um óbito a cada 40 minutos. São dados que demonstram a necessidade de uma atenção maior de todas as esferas de governo. No câncer de próstata, se for feito um diagnóstico precoce, o homem tem até 95% de chance de cura da doença. A cada ano, o individuo deve fazer uma coleta de sangue (PSA) e o toque retal. Estes dois exames são importantíssimos para se fazer o diagnóstico com um tratamento bom e com um prognóstico melhor ainda”, alertou Ronalsa.
“Em Alagoas temos bons exemplos de como é possível quebrar esta resistência. No município de Cajueiro, realizamos 134 exames de toque retal e 132 de PSA. Em Mar Vermelho, no ano de 2016, 73 homens se submeteram ao toque; em 2018, dos 105 participantes do programa, 100 passaram pelo procedimento. Já em Carneiros, todos os 129 pacientes fizeram PSA e toque. Esses dados, aliados às estatísticas do Inca e da SBU, de que o diagnóstico precoce aumenta as chances de cura para 90%, mostram que estamos no caminho certo”, afirma o urologista.
“Começamos este programa fazendo apenas o PSA. Em 2016, a SBU iniciou uma parceria com o Senar Nacional e começamos a fazer o exame de toque retal. Isso gerou uma evolução do programa. É um trabalho que nos deixa emocionado por conhecermos a realidade do campo e vermos a mobilização de homens que querem participar do programa de prevenção ao câncer de próstata”, declarou o superintendente do Senar-AL, Fernando Dória, lembrando que já foram realizados quase 11 mil exames.
De acordo com ele, a participação das prefeituras, por meio das secretarias de Saúde e de Transporte, é essencial para o sucesso das edições do programa. “São eles que selecionam os homens que estão aptos a participar do programa e os trazem do sítio até a cidade para que possa participar das ações do Saúde do Homem”, ressaltou Dória, afirmando que na oportunidade também são feitas palestras educativas também sobre outras doenças.
Câncer
O Programa Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem do Campo também realiza exames preventivos contra o câncer de pênis, um tumor raro, com maior incidência em homens a partir dos 50 anos e que, no Brasil, representa 2% de todos os tipos de câncer que atingem o homem, de acordo com o Inca. Mais frequente nas regiões Norte e Nordeste, este tipo da doença tem, entre os fatores de risco, as baixas condições socioeconômicas, de instrução e a má higiene íntima.