Crise econômica coloca cadeia do leite em alerta
Apesar de o setor do agro não ter parado diante da crise, mantendo o compromisso de levar alimento à mesa da população, segmento do leite atravessa dificuldades e pede medidas emergenciais de socorro
Por Editoria do Gazeta Rural | Edição do dia 25/04/2020 - Matéria atualizada em 25/04/2020 às 04h00
A pandemia do coronavírus, que assola a saúde no mundo e causa prejuízos a economia, gera uma necessidade de repensar negócios para que atividade possa se manter atuante. Neste cenário, a cadeia produtiva do leite, apesar do setor do agro não ter parado diante da crise mantendo o compromisso de levar alimento à mesa da população, também atravessa dificuldades.
“A gente tem enfrentado algumas dificuldades. Embora que entre os segmentos, o setor de alimentos será ainda o menos afetado. Mas a produção não pode parar. Algumas ações que são realizadas hoje, tem reflexos daqui há seis meses ou um ano, principalmente na cadeia do leite. Nela, por exemplo, estamos enxergando algumas tendências de consumo com alguns produtos tendo uma demanda maior por parte do consumidor, como o leite longa vida e o em pó”, declarou o presidente da Associação dos Criadores de Alagoas (ACA), Domício Silva.
De acordo com ele, alguns produtos da cadeia do leite têm tido dificuldades de comercialização como os queijos mussarela e prato, diante do fechamento de pizzarias, restaurantes, lanchonetes e bares. Isso tem afetado o mercado não apenas em Alagoas, mas em todo o Brasil“, afirmou.
Para Domício algumas ações devem ser colocadas em prática no sentido de ajudar os produtores, em especial, os de pequenos porte. “Não apenas os produtores da matéria prima de leite, mas os produtores de queijo. São pequenos laticínios e agroindústrias que vivem, exclusivamente, de produzir queijo. Muitos deles são pequenos laticínios que não têm capital de giro para aguentar um momento como esse que vivemos e não capacidade para armazenar os produtos. É que se olhe com atenção para este segmento para que no final dessa pandemia os pequenos laticínios possam permanecer na atividade”, alertou.
Segundo o presidente da ACA, por meio da Câmara Setorial do Leite, Federação da Agricultura e ACA, vêm sendo discutidas pelas entidades que fazem parte deste segmento, ações a nível estadual e federal.
“É importante a gente focar na importância de linhas de créditos para o armazenamento de produtos, principalmente dos laticínios que fabricam queijo; além da renegociação de algumas dívidas que está sendo trabalhado via federações junto ao Governo Federal e bancos oficiais para que se tenha algumas linhas especiais para que a gente consiga manter esse produtor na atividade. O pequeno e médio produtor têm enfrentado problemas mais sérios. Alguns laticínios deixam de captar leite”, afirmou.
De acordo com ele, o trabalho de ajuda ao segmento do leite precisa ser realizado nas duas pontas, “atendendo tanto os produtores, quanto os laticínios. É uma atividade importante que gera muitos empregos e rendas nas cidades do interior do Estado. Temos feito uma discursão junto com o Sebrae, Câmara Setorial e a Secretaria de Agricultura para que a gente encontre algumas soluções emergenciais para estes produtores”, alertou.
Tais medidas, para Domício Silva, devem ocorrer de imediato. “Afinal, é uma atividade que não para. Todos os dias estão produzindo, as indústrias vão as propriedades captar leite. A gente tem sugerido a aquisição, seja por parte da Conab, para programas sociais de parte dos alimentos produzidos. O Programa do Leite, por exemplo, neste momento não pode forma alguma ser descontinuado. Em resumo, a gente precisa avançar com estas discursões. Talvez, essa atividade do leite, seja a única econômica viável hoje em muitos municípios do Sertão da Bacia Leiteira. O Governo Federal tem alguns programas como o AgroNordeste precisa mostrar agora o que vai ser feito por essa ação junto as cooperativas, produtores e laticínios para que a atividade resista a toda essa crise”, reforçou Silva.
O presidente do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Alagoas (Sileal), Arthur Vasconcelos, reforçou sobre os impactos que o mercado, que conta com mais de 30 laticínios e um leque amplo de produtos, teve com a desaceleração do consumo por conta da pandemia.
“Com isso, todo mundo está estocado. O mercado esfriou principalmente no canal de food service que são os bares, restaurantes, hotéis e escolas. Esse mercado representa uma grande fatia no faturamento principalmente para os pequenos laticínios, onde há muito consumo de queijo, manteiga e creme de leite, praticamente parou”, acrescentou.
Segundo Vasconcelos, como não há clientes, os laticínios estão sendo obrigados a estocar produtos. “Não há como escoar a produção. Tem o segmento do varejo, que são os supermercados e mercadinhos, além da padarias, que estão funcionando e vendendo bem. Mas, estão abarrotados de produtos. Diante de todo este cenário, os pequenos estão tendo dificuldades de comercialização”, afirmou.
No debate com demais entidades do setor, Sebrae e Secretaria de Estado da Agricultura, o Sileal apresentou como sugestões para a crise o fortalecimento do Programa do Leite; apoio para formação de estoque, onde de alguma forma o governo iria custear essa ação por alguns meses para que os laticínios possam continuar coletando o leite, mantendo o estoque para o quando houver o retorno do mercado.
“O queijo mussarela, por exemplo, é um produto bem difundido nos laticínios de Alagoas, onde a maioria sabe fabricar. Existe uma variedade de validade longa, de até seis meses, que seria uma forma de se manter mais o produto. Porém, os laticínios não conseguem manter o produtor e os custos por não estarem vendendo. Então, o governo poderia entrar de alguma forma para fazer a formação de estoque destes produtos, devolvendo-os quando os laticínios começassem a comercializar”, esclareceu Vasconcelos.
Segundo ele, outra alternativa apresentada seria a criação de uma ação semelhante ao Programa do Leite, mas que fosse direcionada aos derivados. “Seria uma forma de também vender mais leite e escoar mais os produtos. A gente vem conversando com as instituições com o Sileal fazendo um trabalho de conscientização para que as pessoas busquem comprar produtos dos laticínios do nosso Estado, valorizando o produto local. A sustentabilidade do produtor no campo e da indústria depende muito do apoio do comércio e dos consumidores. Em termos de variedade e qualidade, Alagoas não perde para nenhum lugar no mundo”, destacou.
Ministério
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, disse que o governo tem procurado alternativas para facilitar o escoamento da produção de leite do País. Como este setor é extremamente pulverizado, acaba sendo prejudicado por causa das dificuldades logísticas, decorrentes das paralisações causadas pela pandemia do coronavírus.
“Temos preocupação com o pessoal do leite. Temos mais de um milhão de pequenos produtores. Os produtores estão muito ansiosos”, disse Cristina, durante divulgação de boletim da situação da pandemia no País, em cerimônia no Palácio do Planalto.